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Atypical: 6 situações reais da série na visão de um youtuber autista

Willian Chimura e uma psicóloga comentam quais situações da produção, que retorna para a 3ª temporada, são fiéis à realidade

Júlia Andrade Publicado em 01/11/2019, às 07h14 - Atualizado em 15/11/2019, às 14h29

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Cena da série Atypical - Divulgação/Netflix
Cena da série Atypical - Divulgação/Netflix

Atypical finalmente retornou com episódios inéditos no último dia 1 de novembro e o enredo da Netflix, voltado para a rotina de amadurecimento de um jovem autista, trouxe novas experiências protagonizadas por Sam (‎Keir Gilchrist).

Isso porque o personagem vive diversas situações envolvidas pela sua condição enquanto portador da Síndrome de Asperger, um tipo do Espectro Autista. Mas quais são os momentos da produção que retratam comportamentos e situações condizentes com a realidade? Isso, de fato, é reproduzido ou apenas estereotipado?

Para a psicóloga Gisa Aquino, mestranda em Ciências da Saúde pelo Einstein, os conflitos sociais e desorganizações por excesso de estímulos são bem desenvolvidos, além da importância da inclusão em locais de trabalho e na escola.

Ela acredita que a existência de séries como essa, que se atenham ao tema das pessoas com TEA - Transtorno do Espectro Autista, é muito importante para o mundo contemporâneo.

Willian Chimura, de 26 anos, autista diagnosticado com Síndrome de Asperger, programador, mestrando em Informática na Educação pelo IFRS e dono de um canal do Youtube sobre Autismo, acredita que Atypical é o melhor que uma série pode chegar pra conseguir refletir a realidade e dar voz ao tema.

Em entrevista à Exitoína Brasil, o youtuber listou seis características abordadas na série que são muito fiéis ao mundo real, também validadas por Gisa. Confira abaixo:

1 - HIPERFOCO

A psicóloga identificou a priorização de um assunto específico como uma das situações apresentadas, levantada como a característica do hiperfoco por Willian.

“Ele manifesta claramente um interesse por pinguins de uma forma não usual, tanto que assina um serviço para monitorar e adotar um pinguim, vê-lo nascendo”, relatou Chimura.

“No contexto da escola, enquanto jovens estão preocupados e focados em socializar e outras questões, ele está focado no nascimento ao vivo do pinguim e acompanhar isso”, relatou. “E esse hiperfoco é uma característica que acho bem explorada na série, por exemplo”, completou.

2 - IMPACTO NA FAMÍLIA

Gisa apontou a forma como a família sofre as consequências de ter uma pessoa com a deficiência como mais um ponto abordado, assim como Willian, que pensa que essa é a parte mais representativa da série.

“Mesmo sendo de outro país, a série mostra como o diagnóstico de autismo impacta na família", analisou o youtuber. "Nas decisões da irmã, na questão emocional da mãe, do pai que não lidou bem com o diagnóstico”, acrescentou.

“Não somente pelo meu exemplo, mas, por conversar com muitas mães, vejo bem de perto o que o diagnóstico causa na família e acho que isso foi captado de forma muito impactante, como de fato acontece na realidade”, contou. “Se pudesse apontar o maior acerto na produção seria mostrar como o dinamismo da família é impactado com esse diagnóstico”, completou.

3 - ECOLALIA

Outra característica levantada pelos dois é a Ecolalia, explicada por Willian ao dar um exemplo de situação no seriado. “Em um episódio, o Sam fala que às vezes ele ouve uma palavra e ela fica se repetindo e repetindo e ele acaba falando a palavra em voz alta de uma forma totalmente descontextualizada”, relembrou o rapaz.

“Acho que a maneira que a série retratou essa característica do Autismo, que é a Ecolalia, ficou muito interessante. Além da maneira como a cena foi explicada de como a palavra entrou na mente do Sam repetidas vezes”, completou.

“Eu assisti e pensei: ‘Nossa, realmente quem escreveu essa série se deu ao trabalho mesmo de perguntar e conhecer bastante as pessoas autistas com Síndrome de Asperger para conseguir escrever isso’”, concluiu.

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4 - RELACIONAMENTO

Gisa acredita que a dificuldade em compreender sentimentos é um comportamento destacado na trama e Willian explicou onde isso foi transmitido de forma muito semelhante ao real.

“O Sam se apaixona pela psicóloga dele e claramente se manifesta bem fora dos limites e que, na verdade, ele só está seguindo de forma literal os conselhos que as pessoas dão para ele”, afirmou o programador.

“Eu vejo que os comportamentos que ele toma para agradar a psicóloga, de tentar de alguma forma tê-la como namorada, se relaciona muito bem com a realidade”, acrescentou. “Tirando a pitada de dramatização, a série reflete muito bem os tipos de dificuldades que pessoas com autismo enfrentam quando vão tentar se relacionar de forma mais íntima com outras pessoas”, concluiu.

5 - QUESTÃO SENSORIAL

Willian identificou as sensações de Sam representadas na tela como características que se assemelham com suas próprias questões.

“O Sam não gosta de encostar as costas na cadeira do ônibus, que é uma questão sensorial. Eu gostava muito de pegar ônibus quando o chão era metálico e tinha uma determinada textura”, disse o jovem. “Quando eu era criança, minha mãe tentava me colocar no ônibus e, se não tinha a textura que eu esperava, eu tinha uma crise e não queria entrar”, contou.

“Isso também é retratado quando perguntam se o Sam prefere queijo quente ou alguma outra comida e ele fala que prefere queijo quente porque é mais prático de comer e você tem uma determinada sensação ao conseguir comer com as mãos”, relatou.

“Eu decido muito assim, por exemplo, se a borda da pizza estiver gordurosa é uma experiência terrível para mim", contou. "Decidimos as coisas por critérios não usuais, enquanto, tipicamente, pessoas decidem pelo gosto, a gente pode decidir por outros aspectos”, completou.

6 - REAÇÕES ESPONTÂNEAS

Os comportamentos peculiares do protagonista foram levantados pela psicóloga como uma fiel representação do mundo real. Inclusive, essa é outra característica em que o próprio Willian se identifica.

“Uma cena, por exemplo, em que ele está no ônibus e começa a pensar em alguma coisa engraçada e começar a dar risada “do nada”. Eu faço isso todos os dias quase enquanto estou engajado em alguma atividade”, relatou o youtuber.

“Penso em algo totalmente descontextualizado e, de repente, começo a gargalhar sozinho. Na verdade, todas as pessoas fazem isso em algum nível só que os autistas não controlam tanto essas reações, são mais espontâneas e a gente não suprime tanto quanto pessoas típicas aprendem a suprimir”, completou.

Willian Chimura chega a comparar a qualidade da produção da Netflix com outra série que gira em torno de um personagem dentro do Espectro. “Quando você compara Atypical com The Good Doctor, acho que a segunda série tem uma forma muito mais estereotipada por retratar um autista gênio, com uma dramatização acentuada”, afirmou.

“Eu realmente gostei do impacto positivo que Atypical gera, sendo muito mais produtivo do que The Good Doctor, que passa uma experiência de entretenimento dramatizada sobre um autista genial, que é um caso raramente encontrado na sociedade”, concluiu.

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Em sua conta do Youtube, chamada Um Canal sobre Autismo, o jovem de Porto Alegre publicou um vídeo em que analisa justamente sobre a produção da Netflix. Intitulado Uma análise autista sobre Atypical, ele conta um pouco mais sobre o que sentiu o assistir ao seriado. Confira abaixo: