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TV e Séries / TV / Polêmica

Pornografia, depressão, drogas: Veja cinco temas delicados retratados em 'Euphoria'

A série da HBO, que encerra sua primeira temporada neste domingo (4), ficou conhecida por ser polêmica e trazer assuntos tabu

Saulo Tafarelo Publicado em 03/08/2019, às 10h38

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Zendaya em 'Euphoria'. Crédito: Divulgação/HBO
Zendaya em 'Euphoria'. Crédito: Divulgação/HBO

Euphoria estreou em 16 de junho na HBO e, em pouco tempo, conseguiu se transformar numa série de sucesso e recheada de polêmicas. A trama adolescente mostrou ao longo de sua primeira temporada vários pênis, micropênis, sexo explícito e uso de drogas sem pudor ou censura. 

Além de todos esses temas pouco explorados (e exibidos) na televisão, o seriado adolescente também tocou em assuntos importantes do mundo jovem de forma compreensiva, como depressão, masculinidade tóxica e libertação sexual. 

Porém, com todos esses conteúdos sendo exibidos de maneira explícita e, em muitas vezes, de um jeito chocante, Euphoria rendeu várias controvérsias, já que a série da HBO foi alvo até de grandes petições que pediam seu cancelamento. 

Logo após o primeiro episódio, o Conselho de Pais da TV americana pediu a retirada da série do ar com um comunicado público, sob alegação de que o conteúdo mostrado é como uma má influência aos jovens. 

Zendaya, que interpreta a personagem principal Rue, teve de recorrer às suas redes sociais para alertar sobre o conteúdo que seria mostrado. Ela interpreta uma adolescente que volta para casa depois de meses na reabilitação, indo parar lá por conta de uma overdose de drogas. Ela escreveu que Euphoria faz "um retrato bruto e honesto de vícios, da ansiedade e das dificuldade dos dias atuais". 

Dirigida por Sam Levinson, a série foi renovada para uma segunda temporada pela HBO, provando que, apesar de todas as polêmicas, a série despertou uma curiosidade nas pessoas. 

Confira abaixo cinco temas delicados de Euphoria e como a série os retratou: 

Depressão

A depressão entre os jovens é um dos assuntos explorados e exibidos na série. Ao longo dos episódios, algumas personagens podem ser identificadas com traços de depressão ou revelam que já tiveram a doença psiquiátrica no passado. A depressão de Rue (Zendaya) é retratada mais especificamente no sétimo episódio, no qual ela se isola em seu quarto por alguns dias, deitada debaixo das cobertas, e revela que assistiu a 22 horas de Love Island, um reality show ao estilo Are You The One, da MTV.

Rue comenta sobre sua depressão, que chega a impedir de levantar e ir ao banheiro para fazer suas necessidades. Ela reclama de dor na bexiga, por conta da quantidade de toxinas que não foram liberadas, e acredita que seria mais fácil ir ao banheiro de uma vez, mas que por conta da depressão, seu cérebro e seus músculos não a deixam movimentar-se. No mesmo episódio, ela diz que se sente presa num tempo que é confuso, dentro de sua própria cabeça.

Zendaya como Rue, que tenta lidar com a sobriedade e com a depressão

A depressão é uma das doenças que mais atinge pessoas no mundo e os jovens são os indivíduos com umas das maiores taxas de incidência da doença psiquiátrica. Considerada o “mal do século” pela Organização Mundial da Saúde, estudos vêm comprovando que ultimamente o aumento dos quadros de depressão entre os jovens têm sido causados pelo uso das redes sociais. Em Euphoria, Rue é retratada também com ansiedade, provocada pela lembrança de momentos desagradáveis, já que ela sabe que os momentos bons são poucos e que logo eles somem para dar lugar aos momentos ruins.

Masculinidade Tóxica

Mais um dos temas centrais de Euphoria. As personagens Cal Jacobs (Eric Dane) e Nate Jacobs (Jacob Elordi) são pai e filho na trama. Ambos exercem sua masculinidade de maneira compulsória e altamente tóxica nas telinhas. A começar por Cal, o qual é tido como um “pai de família” e um dos mais respeitados empresários da cidade, que trai a esposa com personagens LGBTs, fazendo tudo isso às escondidas.

Ele usa seu poder e influência para comprar o silêncio dos parceiros sexuais, chegando a ter dezenas de conteúdos pornográficos gravados em DVDs dentro de seu escritório para alimentar sua personalidade. No primeiro episódio, Cal se autodenomina num app de paquera como DominantDaddy (Papai dominante, em tradução livre) e acaba tendo uma relação sexual com Jules (Hunter Schafer), adolescente trans que estuda na mesma escola de seu filho e que conhece seus círculos sociais.

Cal Jacobs em Euphoria

Tal pai tal filho, Nate acabou sendo treinado para desenvolver a mesma ganância e fome de controle que seu pai. Além de namorar Maddy (Alexa Demie) e ter uma relação abusiva com ela, chegando até a estrangulá-la em um dos episódios, ele tenta controlar a tudo e a todos a sua volta, sempre virando o jogo para si.

Na trama, Nate cria um usuário em um aplicativo de paquera LGBT+ e acaba se passando por outra pessoa, nomeando-se de Tyler. Pelo app, acaba, assim como seu pai, seduzindo Jules, a qual envia fotos nua para ele, sem saber que Tyler é na verdade um dos meninos que ela mais acha repugnantes, arrumando confusão com ele logo no primeiro episódio.

Ao longo da narrativa, Nate revela ser o cara do app que Jules se apaixonou e, em troca de seu silêncio e como forma de manipulação, a ameaça entregar para a polícia para ficar registrada para sempre nos arquivos de crimes sexuais, já que ela é menor de idade.

O casal Nate Jacobs e Maddy Perez, que vive um relacionamento abusivo

Nesta situação, as personagens são retratadas como espelho uma da outra, repetindo ciclos abusivos com seus familiares e amigos. A série acerta em tratar desse tipo de comportamento de uma maneira brutal, mantendo a fidelidade com o tipo de situação que ocorre fora da ficção. Sob a ordem de ameaças e do uso inconsequente do poder e da influência que têm, as personagens vão manipulando as outras como bem entenderem.

Uso e abuso de drogas na adolescência

Vários dos personagens adolescentes na série foram retratados consumindo drogas das mais diversas, desde maconha e cocaína até anfetamina e remédios fortes que geram efeito depressivo. Na série, o consumo foi retratado dentro de casa, em festas e entre amigos da escola. Porém, o abuso de drogas se restringe à personagem central Rue, na qual a narrativa gira em torno de sua volta para casa depois de um tempo na reabilitação após uma overdose. Ela tenta lidar com a sobriedade ao longo da trama mas falha em vários momentos, chegando a ficar mais de 24 horas desacordada devido ao uso de uma forte droga em um dos episódios.

Em Euphoria, Rue assume que a vida com as drogas é difícil e revela que seu consumo começou após a morte do pai, que faleceu devido a um câncer.

A história é fiel ao retratar jovens experimentando ou abusando de drogas no período da adolescência, mas não trata isso como algo totalmente bom e legítimo. Ao decorrer dos episódios, as personagens dizem que cometeram erros ao consumir determinadas drogas e podemos ver que Rue luta contra a tentação de se viciar novamente ao aderir às reuniões dos Narcóticos Anônimos, e até chegou a impedir que sua irmã consumisse drogas entre os amigos.

Dominação Financeira

No mundo dos fetiches e do BDSM , o termo Findom, ou dominação financeira, é quando um indivíduo domina um submisso mediante pagamento de certas quantias de dinheiro. A prática faz parte da submissão e da dominação consensual entre os indivíduos e é feita para fins de prazer sexual.

Como mostrado na série, não é necessário que os indivíduos tenham uma relação física para chegar ao prazer. Kat (Barbie Ferreira) liberta seu lado sexual ao longo dos episódios e vira uma dominatrix na internet, exigindo mimos e altas quantias de dinheiro enquanto humilha homens pela webcam. A humilhação é uma exigência dos homens, fazendo parte do jogo da submissão e da dominação, na qual eles sentem prazer em se sentirem “inferiores” à Kat.

Kat assume uma personalidade diferente ao longo dos episódios

++Atriz de 'Euphoria' comenta cena do último episódio: 'Não fico assustada por uma prótese de micropênis'

Não há pudores em Euphoria quanto a esse tema e às cenas que o retratam. Em um dos episódios, um micropênis é mostrado explicitamente através do computador de Kat enquanto ela humilha ao máximo o homem do outro lado da webcam, na qual ele sente prazer máximo pelos xingamentos dela. Com suas sessões na webcam, ela ganha ao mínimo 300 dólares por meia hora e acaba desenvolvendo sua nova personalidade através da atitude autoritária e das roupas de látex.

Sexo explícito

Diferentemente de outras séries, que mostram relações sexuais encobertas ou apenas partes do ato, Euphoria mostra o sexo de maneira mais nua e crua. Para além do ato sexual, a série mostra explicitamente partes do corpo como seios, nádegas e até pênis (e micropênis).

As partes mais íntimas dos homens são geralmente exibidas de maneira explícita apenas em filmes e séries com cunho pornográfico, mas em Euphoria elas são exibidas mesmo assim. Em quase todos os episódios há cenas com pênis à mostra, gerando polêmicas atrás de polêmicas na internet. Logo no primeiro episódio, o pênis da personagem Cal é exibido sem censura e, ainda por cima, ereto. Já no segundo episódio, o qual é centrado em Nate, uma das cenas iniciais se passa num vestiário masculino, na qual mais de trinta pênis podem ser contados durante a tomada.

++Ator de ‘Grey’s Anatomy’ aparece em nu frontal na nova série ‘Euphoria’, da HBO

Além dos pênis, um micropênis, como descrito na própria série, é mostrado enquanto Kat humilha o homem por trás da webcam. Nada disso impede que Euphoria transmita o choque imediato, mas também conta sua narrativa da maneira mais real possível.

Pornografia

As personagens da série veem pornografia e são retratadas como adolescentes que têm na pornografia um guia do que fazer na vida real. Não somente os adolescentes na série, mas também os adultos, consomem e reproduzem a violência marcada dos conteúdos pornográficos. Cal possui uma coleção de DVDs com conteúdo erótico que fazem parte do seu rol de fetiches e de estilo de vida. Eventualmente, seu filho Nate acaba tendo contato com esses DVDs e alimentando um desejo igual ao do pai.

Maddy, namorada de Jacob, assiste pornografia não para ter um prazer sozinha, mas sim para treinar as atuações e as posições mais sensuais e grotescas para surpreender seu namorado.

++Outra cena de 'Euphoria' dividiu os fãs da série, causando comoção na internet

Como já dito anteriormente, Kat desenvolve seu lado dominador e acaba tendo uma página num site pornográfico onde pode se exibir e contatar submissos dispostos a pagá-la para humilhá-los. Porém, antes disso, um vídeo seu não consentido, na qual transava com dois garotos de sua escola, foi parar num site pornô, ganhando muitas visualizações e chamando a atenção dos usuários.

As amigas Maddy e Cassie (Sidney Sweeney) numa das cenas da trama

Assim como nos círculos adolescentes de hoje em dia, o Snapchat é retratado como um app para se trocar "nudes", aspecto também explorado na série, e o Tumblr é onde os adolescentes podem preencher suas necessidades de conteúdos pornográficos. Logo, o sexo e a pornografia andam lado a lado, não sendo aspectos íntimos mas sim públicos.

Assim, os temas tidos como tabu são colocados a prova de uma maneira, diga-se de passagem, radical e bruta em Euphoria. Tratados como se ocorressem de fato com as personagens na vida real, a série busca estabelecer um diálogo com a geração Z ao não julgá-la nem apoiá-la em seus atos.

Segundo o próprio Sam Levinson, diretor da série, a história é baseada em suas próprias experiências como adolescente. Ao The Hollywood Reporter, ele falou: “Acho que estamos sendo autênticos à experiência de ser jovem. Não queríamos segurar nada, não queríamos que parecesse que estávamos escondendo algo”.

De fato, Euphoria não esconde absolutamente nada do espectador, nem as partes mais íntimas, por assim dizer, das personagens são deixadas de lado na trama adolescente.

++ 'Euphoria' é renovada para a segunda temporada pela HBO

O episódio final da primeira temporada de Euphoria vai ao ar nesse domingo (4) na faixa das 23h da HBO.