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Retrospectiva 2019: Orange Is The New Black chegou ao fim como símbolo de representatividade na TV

Este ano, a Netflix encerrou a sua mais duradoura série até então

Júlia Andrade Publicado em 22/12/2019, às 09h45 - Atualizado às 10h50

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Cena da temporada final de 'Orange is the New Black' - Divulgação/Netflix
Cena da temporada final de 'Orange is the New Black' - Divulgação/Netflix

Orange Is The New Black estreou sua sétima temporada em julho deste ano e foi um marco para a Netflix e para o mundo do streaming. É, até o momento, a série mais duradoura da plataforma, com episódios exibidos ao longo de seis anos.

A produção deixa um legado de representatividade que abre portas para existir cada vez mais consciência social e mensagens construtivas nas séries.

A trama se desenvolve a partir da história de Piper Chapman (Taylor Schilling), de Nova York, condenada a cumprir 15 meses em uma prisão feminina federal, a Penitenciária de Litchfield, por ter participado do transporte de uma mala de dinheiro do tráfico de drogas quando era mais nova e namorava com Alex Vause (Laura Prepon), como um favor a ela, dez anos antes da condenação.

Ao trinta e poucos anos, Piper se transporta de uma vida tranquila, com o atual noivo Larry Bloom, de volta ao seu passado completamente diferente de sua atualidade e encontra personalidades femininas de todos os tipos na prisão e aí que entra a essência de Orange Is The New Black, além dos flashbacks das detentas, que levam o espectador para dentro da vida pretérita de cada mulher e mostram o que a levou para a penitenciária.

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Com um enredo que aborda questões LGBT, o racismo, a pluralidade de culturas e a representatividade feminina, tudo dentro do ambiente carcerário, a série tem um conteúdo rico, de muita importância, que reproduz realidades ainda predominantes pelo mundo e chega a cruzar sua ficção com acontecimentos da vida real.

Representatividade LGBT

Laverne Cox é a representação da mulher transsexual dentro e fora da série. Sua personagem, Sophia Burset, foi presa por fraude de cartões de crédito, feita justamente para bancar suas intervenções de transição de gênero, e acabou atuando como a cabeleireira da prisão, mas passou por episódios tensos ao sofrer transfobia dentro da própria penintenciária, como consequência cruel de conflitos com a detenta Gloria (Selenis Leyva) e isso a levou para a prisão de segurança máxima, a solitária, que fez a personagem se ver desfigurada e até cometer uma tentativa de suicídio.

A atriz chegou a falar para o BuzzFeed News sobre a relação de sua trama na série com a realidade. “Esta é a violência que experimentamos em nossas vidas”, disse. “É real. É difícil para mim, e isso está me aterrorizando. Eu sofri violência, e ter que voltar a experimentar isso diante das câmeras não é a experiência mais agradável", continuou. "Mas é bonito quando nós podemos contar a verdade. Sophia é uma lutadora e eu amo essa luta", completou.

A série também mostra o passado de Sophia, através dos tradicionais flashbacks. Antes da transição, ela era um bombeiro chamado Marcus, casado com Crystal, com quem teve o filho Michael. Para financiar suas operações de mudança de sexo, ela fraudou cartões de crédito e sua esposa não julgou a situação, mas Michael rejeitou a condição trassexual do pai e o entregou para a polícia.

A maioria do corpo de personagens da série é composto por mulheres homossexuais ou bissexuais. O interessante é que isso cruza as telas e é uma realidade na vida de algumas atrizes, ou seja, a representatividade é, de fato, exercida.

Sobre a vida real, a atriz Samira Wiley, que vive Poussey, é casada com a roteirista da série, Lauren Morelli. Vicci Martinez e Emily Tarver, que interpretam as personagens lésbicas Artesian McCullough e Daddy, respectivamente, também namoram. E Ruby Rose, intérprete de Stella Carlin, também está entre o elenco assumidamente homossexual.

Na série, os relacionamentos e conflitos são desenvolvidos no enredo de forma expressiva, como poucas vezes foram mostrados. Com cenas de sexo, romances, brigas violentas e diálogos profundos, é mostrado muito além dos esteriótipos reproduzidos geralmente, mergulhando nos envolvimentos das peronsagens e sempre com leves toques de humor que humanizam ainda mais o contexto com perfis de mulheres pegadoras, apaixonadas, obcecadas, românticas entre outras.

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Comunidade Negra e Latina dentro e fora das telas

A produção representa as comunidades que de fato estão no ambiente carcerário, com personagens negras e latinas. Considerando que mais da metade da população carcerária dos Estados Unidos é negra, isso acaba sendo refletido nas telas e essas mulheres tem os mais diversos motivos pelo encarceramento entre tráfico, uso de drogas e assassinatos, além de carregarem fortes histórias do passado vulnerável que lhes trouxe ao destino da prisão.

Sobre as latinas, Selenis Leyva (Gloria Mendoza) , Jackie Cruz (Marisol "Flaca" Gonzales), Elizabeth Rodriguez (Aleida Diaz) e Dascha Polanco (Dayanara "Daya" Diaz) são algumas das atrizes que, assim como na questão LGBT, cruzam a realidade com a ficção ao de fato serem de origem latina e validarem essa representatividade. 

Elas falaram ao Huffpost Brasil sobre a necessidade de representar várias vertentes de cultura latina e dar mais voz para personagens dessa comunidade, além dos esteriótipos seyxs e mexicanos, e reconheceram o papel da produção da Netflix. "Orange está nos ajudando a quebrar as barreiras e pavimentar o caminho para outras latinas", disse Jackie. "Ainda que elas estejam na prisão, vemos que são inteligentes, são fortes, são sobreviventes e isso é uma coisa boa", completou Selenis.

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Black Lives Matter

A ação que, em tradução livre, significa Vidas Negras Importam, é um movimento ativista internacional, de origem norte-americana, contra a violência direcionada as pessoas negras. A campanha foca nos protestos em torno da morte de negros causada por policiais e as questões de discriminação racial, brutalidade policial e a desigualdade racial no sistema de justiça criminal dos Estados Unidos.

A série reproduz essa realidade em sua trama e, por ter grande parte do elenco negra, mostra a diferença de tratamento em situações determinantes no contexto da Penitenciária de Litchfield. Uma cena icônica, que chamou a atenção do mundo, foi a morte de Poussey (à última da direita na imagem), que tentou defender a amiga Suzanne, a Crazy Eyes (Uzo Aduba), durante um protesto dentro da prisão, e foi sufocada "acidentalmente" pelo policial Bailey (Alan Aisenberg).

Em entrevista à Variety, Samira, atriz que interpreta Poussey, comentou sobre o desfecho de sua personagem. "É uma morte absurda, mas não foi uma decisão descuidada por parte da série", disse. "Ela ecoa muitas mortes que acontecerem no ano passado como Eric Garner, Mike Brown [ambos mortos por policiais]. Isso acontece na vida real", continuou. 

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"Sinto que a raiva de muitas pessoas é direcionada à série. Eu quero que as pessoas fiquem chateadas, mas quero que elas fiquem chateadas pelo fato de isso acontecer na vida real”, completou.

Orange Is The New Black estreia sua sétima e última temporada na próxima sexta-feira (26).