De prazer feminino a aborto, a série fala de assuntos importantes e quebra tabus
Larissa Catharine Oliveira Publicado em 01/02/2020, às 19h00
A série Sex Education se tornou um dos maiores sucessos da Netflix. Com a primeira temporada lançada em 2019, o número de pesquisas sobre a trama no primeiro semestre do último ano superou até mesmo Stranger Things, uma das maiores da plataforma, rendendo uma continuação, que estreou no último dia 17.
Na história, Otis é um aluno tímido do ensino médio que vive com sua mãe, Jean Millburn, que é terapeuta sexual. Apesar de ainda ser inexperiente, ele é uma espécie de especialista em sexo e acaba montando sua clínica na escola Moordale High ao lado de Maeve, ajudando os outros alunos a resolver problemas com sua sexualidade.
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Com bom humor, a série aborda tópicos de grande importância sobre sexo na adolescência, retratando as dificuldades que os jovens passam em seu período de descobrimento da própria sexualidade. "[A série] permitiu que os jovens conversassem sobre coisas que eram vistas como vergonhosas", comentou Gillian Anderson, intérprete da mãe de Otis, em entrevista para a Vogue. "Essas coisas fazem parte do nosso dia a dia, mas as pessoas fingem que não existem porque elas despertam sentimentos demais ou revelam muito sobre nós mesmos."
PRAZER FEMININO
Quando Aimee começa a namorar Steve, o rapaz diz a ela que não quer uma performance na cama, mas que deseja saber o que ela gosta. Sem saber responder a questão inédita em sua vida, ela procura Otis para um conselho, e ele lhe indica a masturbação como uma maneira de se conhecer mais intimamente.
Apesar de ser incentivada para meninos, a masturbação entre mulheres ainda é um tabu. Mesmo desacreditada, Aimee segue o conselho do colega e descobre um novo mundo a ser explorado em sua sexualidade, o que melhora significamente sua vida sexual - inclusive com seu namorado.
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O tema também é abordado na segunda temporada, quando Otis tenta "ir além" com sua namorada, Ola, e descobre que não sabe tocá-la apropriadamente. Ele então procura ajuda de uma colega lésbica, que o aconselha a falar com sua namorada sobre as coisas que ela gosta.
ASSÉDIO SEXUAL
Na segunda temporada, Aimee é vítima de um grave assédio sexual no ônibus para a escola. Um desconhecido se masturba e ejacula em sua roupa e nenhum dos presentes a ajudam. Convencida por Maeve a denunciar o caso, a jovem passa por um período de trauma, sem conseguir voltar a usar o transporte público ou manter relações íntimas com seu namorado.
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Apenas em 2018 esse tipo de assédio sexual foi enquadrado em uma lei no Brasil e agora é chamado de importunação sexual, com pena de prisão de um a cinco anos para o infrator.
Ao compartilhar sobre sua experiência com outras jovens de sua classe, as meninas começam diversas situações em que foram assediadas desde sua infância. Maeve conta que era julgada pelo tamanho de suas roupas, Ola relembra um episódio em que foi perseguida por um estranho e todas as meninas compartilham sua experiências, concluindo que é a opresão masculina que as une enquanto mulheres.
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SEXUALIDADE LGBT
Durante suas duas temporadas, Sex Education aborda diferentes sexualidades e os diferentes dilemas dos jovens ao explorar ao se descobrir, como o dilema de Adam Groff ao se apaixonar por Eric Effiong após ter namorado garotas. Apenas na segunda temporada, ao conviver com Ola em seu próprio momento de descoberta, ele se entende como bissexual.
Existe também uma personagem que conversa com Jean sobre não ter vontade de fazer sexo e se sentir pressionada para iniciar a vida sexual, mesmo sem interesse. A terapeuta conversa com ela sobre assexualidade e explica que a jovem precisa respeitar seus sentimentos e vontades, ajudando-a a superar a ansiedade que o tema lhe trazia.
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Na segunda temporada, Rahim, o novo aluno, chega a questionar um professor sobre métodos de contracepção em relacionamentos homossexuais, chamando atenção para as lacunas na educação sexual padrão no currículo escolar.
HOMOFOBIA
Na primeira temporada, Eric acaba sendo vítima de um ataque homofóbico no dia de seu aniversário após sair vestido com a roupa do personagem de um filme. Além disso, o personagem teme não ser aceito por sua família cristã, escondendo suas preferências de roupa e maquiagem até finalmente se sentir confiante o suficiente para assumir sua sexualidade no episódio final.
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PORNOGRAFIA DE VINGANÇA
A prática do revenge porn ou "pornografia de vingança", que consiste em compartilhar fotos ou vídeos íntimos de terceiros sem consentimento, é abordada na primeira temporada. Todos os jovens da Moordale High recebem uma nude e a ameaça de revelação da identidade da garota exposta. Apesar de ser mais comum entre casais que terminaram o relacionamento, o caso mostrado na serie é uma vingança entre duas amigas que tiveram um desentendimento.
ABORTO
Na primeira temporada, Maeve acaba engravidando do namorado da época, o atleta Jackson Marchetti. Ela decide por um aborto e a série foi elogiada por retratar o processo para realização do procedimento como "realista", ao menos em países onde o aborto é legal, como no caso do Reino Unido, que oferece o procedimento gratuitamente.
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Em entrevista para a revista Teen Vogue, Helen Weems, enfermeira familiar e fundadora da ONG All Familie Healthcare, disse que as cenas retratam a experiência comum das mulheres que decidem pelo aborto e tem a chance de fazê-lo legalmente. "Gostei que a equipe foi muito profissional, o espaço da clínica era limpo e claro, que Maeve foi bem cuidada", disse. "As clínicas de aborto independentes são assim".
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