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"Batem à Porta" coloca o destino do mundo nas mãos de casal gay | #CineBuzzIndica

Novo filme de M. Night Shyamalan chega aos cinemas nesta quinta-feira (02)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 02/02/2023, às 16h15

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"Batem à Porta" coloca o destino do mundo nas mãos de casal gay - Divulgação/Universal Pictures
"Batem à Porta" coloca o destino do mundo nas mãos de casal gay - Divulgação/Universal Pictures

Para muitos, M. Night Shyamalan já não vive mais seus tempos áureos. Quando o diretor emendou “O Sexto Sentido” (1999), “Corpo Fechado” (2000), “Sinais” (2002) e “A Vila” (2004), época em que foi intitulado por alguns como o “novo Hitchcock”, bastou que ele lançasse a trinca “Fim dos Tempos” (2008), “O Último Mestre do Ar” (2010) e “Depois da Terra” (2013) para que seu talento passasse a ser questionado a cada novo filme.

É bem verdade que sua carreira vem de muitos altos e baixos nos últimos 10 anos e, como grande admirador do indiano, devo dar o braço a torcer e afirmar que ele nunca mais chegou ao nível de seus primeiros trabalhos. Contudo, é inegável que Shyamalan tem demonstrado cada vez mais domínio daquilo que quer mostrar, e de como quer mostrar, realizando tudo isso se mantendo extremamente fiel ao seu próprio estilo, sempre atrelando assuntos que nos fazem questionar nossa própria existência e vivências.

Por isso, assistir a um filme de Shyamalan é praticamente um evento. Amando ou odiando o diretor, muitos resolvem lhe dar uma nova chance - é praticamente impossível sair de uma sessão de Shyamalan apático -, e mesmo aqueles que se frustraram com “Vidro” (2019) e “Tempo” (2021), seus longas mais recentes, irão ficar interessados por “Batem à Porta”, sua mais nova investida no terror.

A premissa do filme é bastante simples: quatro estranhos visitam uma cabana remota na qual um casal homoafetivo, interpretado por Jonathan Groff e Ben Aldridge, e sua filha adotiva (Kristen Cui) estão hospedados para curtir as férias em família. A missão dos estranhos é levar a seguinte mensagem: a família deve fazer um sacrifício, caso contrário, o futuro da humanidade estará ameaçado. Apesar do aspecto minimalista, emulado de um home invasion, “Batem à Porta” lança, na verdade, um olhar mais íntimo àqueles personagens inseridos em um contexto de cinema catástrofe.

Ben Aldridge, Kristen Cui e Jonathan Groff (Divulgação/Universal Pictures)

Se fosse dirigido por Roland Emmerich, diretor de “Independence Day”, “Batem à Porta” não seria esta história de terror em que Shyamalan dá ao público a oportunidade de acompanhar o que acontece dentro daquela cabana. A câmera de Emmerich se voltaria aos eventos apocalípticos do cinema catástrofe que tanto o encantam e que também se fazem presentes na trama adaptada de “O Chalé no Fim do Mundo”, livro de Paul Tremblay.

Em outra fita recente do cinema catástrofe, “Destruição Final: O Último Refúgio” (2020), acompanhamos uma família em apuros quando um cometa avança em direção à Terra. A tensão criada pelo cineasta Ric Roman Waugh no longa protagonizado por Gerard Butler está no fato de como ele nos insere na jornada daqueles personagens. Tal qual a recente série “The Last of Us”, somos convidados a fazer parte da história e de suas escolhas. É óbvio que é interessante acompanharmos o mundo sendo destruído - juro que não sou niilista - mas essa sede por aniquilação já tem sido bastante saciada pelos filmes de super-heróis.

E o próprio Shyamalan sabe disso - até sua trilogia de heróis iniciada com “Corpo Fechado” (2000) está muito mais interessada na humanidade dos vilões e mocinhos. O que acontece fora daquela cabana surtirá muito mais efeitos nos personagens - estranhos e família - do que em nós, pelo menos a princípio. Explico. É que somos praticamente um 4º membro daquela família. A partir do instante em que os estranhos, liderados por um soturno, convincente - e moderadamente ameaçador - Dave Bautista apresentam a proposta à família, nós, enquanto espectadores, também passamos a nos indagar: e se fosse comigo? Eu sacrificaria alguém da minha família em prol de salvar toda a humanidade? Muitos deixarão a sala de cinema com esse questionamento. Ao chegar em casa, faça o teste e descubra com quais tipos de pessoas você mora.

Dave Bautista, Abby Quinn e Nikki Amuka-Bird (Divulgação/Universal Pictures)

O que torna “Batem à Porta” ainda mais intrigante está no fato do ultimato acerca do fim da humanidade ser colocado nas mãos de um casal gay. Shyamalan recorre aos flashbacks - por vezes desnecessários - para mostrar que o casal não é aceito pelos pais de um deles e também para elucidar como eles encaram a violência de uma sociedade homofóbica enquanto estão em uma simples socialização em um bar. Então, se aos olhos da humanidade eles não são bem tratados, por que salvar a todos?

Todavia, Shyamalan não possui um prazer voyeurístico em observar aquela família sendo torturada psicologicamente - os invasores não estão dispostos a matá-los, apesar de amarrá-los e feri-los em alguns instantes - o que o diretor pretende é discutir as escolhas de cada um e colocá-los à prova diante de uma proposta absurda: como o futuro da humanidade pode depender de pessoas comuns e a missão ser trazida por pessoas que também não possuem nada de especial?

Não é novidade alguma que um dos temas mais recorrentes na filmografia de Shyamalan seja o embate entre fé e ceticismo. E é justamente ao lidar com um tema que não traz respostas fáceis ao espectador que “Batem à Porta” enriquece e ganha força. Diferentemente de “Glass Onion: Um Mistério Knives Out”, outra trama enigmática na qual somos convidados a participar, Shyamalan não está interessado em revelações surpreendentes - apesar de eu ter percebido uma tentativa de plot twist ali.

Ao final, "Batem à Porta” pode não estar à altura dos melhores trabalhos do diretor, mas em suma, reúne características que farão com que os apreciadores de seu cinema se envolvam com mais um de seus filmes, onde humanidade, família, fé e egoísmo são temas centrais, revelando ainda que o futuro de nossas vidas é feito a partir de escolhas baseadas naquilo que decidimos acreditar por vontade própria, seja por fé ou por amor.


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